Resumo
- Voltarei a enviar essa newsletter 1-2x por semana.
- Explico porque estava sumido.
- Te convido a descadastrar-se caso não queira receber.
O que aconteceu
Quando enviei a última edição dessa newsletter, há quase um ano, estava fazendo fisioterapia para reaprender a andar, só tinha força na mão para fazer uns riscos e exercício físico era tão exaustivo, que ficava estupefato por horas após a fisioterapia. Enquanto isso se desenrolava, eu procurava emprego durante um sabático que durou mais tempo do que eu gostaria e acabava um relacionamento de quatro anos.
Desde então, muita coisa aconteceu: já estou quase abandonando a bengala, consigo cortar uma cebola com destreza e até gerenciei uma mudança sozinho.
Eu sei que sou privilegiado. Estou me curando a cada dia, e felizmente tudo que tenho que fazer é sentar-me em uma escrivaninha para trabalhar.
Privacidade
Quando comecei a trabalhar com eleições em 2018, me deixava aflito respirar aquilo o dia inteiro. Eu não tenho a stamina mental de um jornalista e quando chegava em casa, queria pensar em qualquer coisa, menos política. Passei a me "alienar seletivamente" acompanhando menos o noticiário, parei de olhar alguns grupos do WhatsApp e passei menos tempo em redes sociais.
Foi a melhor escolha que pude fazer para minha saúde mental. Minha ansiedade melhorou muito, minha concentração nem se fala, eu nem lembrava o que era ler livros com frequência, algo antes impensável.
Como todo viciado, só percebi o quão mal a droga me fazia após algum tempo de abstinência.
Só voltei a acessar redes sociais durante os primeiros meses da pandemia. Mantive a conta ativa porque precisava, vez ou outra, para o trabalho, mas não acessava com frequência.
Quem não dá a cara a tapa…
Quatro anos depois, na semana seguinte às eleições de 2022, fui afetado por um layoff. Eu e meu time inteiro fomos demitidos.
Imediatamente fui obrigado a encarar uma dura realidade: quem não posta é esquecido.
Não estou dizendo isso para efeitos dramáticos. Realmente zenti na pele as consequências de ser uma pessoa privada nos tempos modernos. Inclusive, contarei em detalhes o que aprendi com esse detox digital nos próximos textos.
Não adianta tentar manter contato com as pessoas através de outros canais — como WhatsApp — existe um estranhamento porque todos já estão condicionados à dinâmica.
Vivemos em um mundo onde as pessoas julgam como estranho quem não tem conta no Instagram e, ao invés de trocar o celular na balada com o date, trocamos as arrobas.
Um mundo onde quem não posta não é lembrado.
É triste constatar que estamos vivendo numa sociedade na qual precisamos aumentar o nosso "share of mind"? É sim. Mas talvez eu tenha levado o conceito de viver o momento sem a mediação de telas um pouco além.
Desde então venho me desafiando a postar mais, até comecei um TikTok ano passado. De repente, pessoas voltaram a conversar comigo, recebo convites para rolês e, quando encontro alguém pessoalmente, sempre surge um comentário sobre algum post. Me sinto parte da sociedade novamente.
Não só isso, como preciso confessar que estou gostando de postar. Estou melhorando muito minha desenvoltura em frente à câmera, perdendo timidez, aprendendo sobre produção de vídeo, edição, etc.
Minha paixão pela escrita
Desde que comecei a escrever, com 13 anos, percebi que era algo mágico. Quando escrevo, consigo entender o mundo melhor, expressar minhas emoções e, de forma geral, escrever faz-me sentir bem no meu próprio corpo.
Meu primeiro emprego — que escolhi e não por necessidade— foi escrevendo sobre software para um site de downloads, relíquia da internet nos tempos antes das app stores.
Acabei migrando para o marketing, passei por mídias sociais, vendas, atendimento ao consumidor, research e por fim produto. Trabalhar em big tech por uma década foi uma aventura, mas também consumia toda minha energia e com o tempo fui abandonando o hábito de escrever.
Depois do layoff, refleti muito sobre nosso relacionamento com tecnologia. Como chegamos a esse ponto. Mas não tive coragem de publicar porque estava procurando emprego e tinha receio de que uma visão crítica pudesse me prejudicar na busca.
Segundo trimestre do ano passado, comecei um emprego numa startup — com sua cultura completamente diferente dos meus costumes de big tech — então naturalmente minhas energias foram para tentar me adaptar.
Não funcionou.
Fui desligado na véspera de natal, mas tive a epifania de que publicar meus textos e ideias talvez possa ser útil como portfólio, além de atingir pessoas que talvez me entendam, sem falar que me faz bem escrever.
Texto? Em 2025?
Segundo o Ipec, pela primeira vez na história, pessoas que não costumam ler são maioria no Brasil. A The Economist também reportou a tendência de que adultos ingleses estão conseguindo interpretar texto cada vez menos.
Gosto de escrever, mas o formato texto está em extinção. Viro podcaster? YouTuber? Faço react no TikTok?
Eu só assino a The Economist — que é uma revista de economia interessante, mas um pouco chata de ler — porque toda matéria é narrada (por humanos) e o aplicativo deles é ótimo. Nada bate a conveniência de ouvir uma matéria de dez minutos.
Se até eu estou lendo menos, qual o sentido de publicar uma newsletter?
Acredito que ideias deveriam ser agnósticas do formato e cabe ao autor artista decidir como expressá-la, dependendo da fortaleza de cada um.
- A escrita funciona para dar nuance, acompanhar o raciocínio do autor e respeitar o ritmo do leitor.
- O áudio parece ideal para transparecer sentimentos e criar um relacionamento com o interlocutor.
- O TikTok dá para performar uma ideia (melhor até se serializar).
- No LinkedIn, você precisa simplificar a ideia e só expor os fundamentos (com um CTA!).
- Já o YouTube dá espaço para autoexpressão através do audiovisual bem produzido.
Espere receber textos sobre
- Reflexões: sobre nosso relacionamento com tecnologia. Já na quarta-feira publico meu experimento me afastando de redes sociais, logo em seguida, como excesso de informação está matando nossa capacidade de concentração, outro explica a economia da atenção ou porque tudo ficará medíocre num futuro com IA.
- Jardicas: originalmente, esta seção era dedicada às recomendações de links interessantes. Por mais que a intenção fosse boa, vamos combinar que todos temos nossa própria lista interminável de vídeos para assistir, podcasts para ouvir, textos para ler… Não quero alimentar essa ansiedade. Agora, as Jardicas virarão dicas para ter um relacionamento saudável com tecnologia. O que especialistas em tratamento de vícios nos ensinam sobre uso consciente de telas ou como ignorar informações desnecessárias para não ficar louco num mundo com muita informação.
- Análises de mercado: no futuro também publicarei análises de mercado. Similar a essa análise sobre streamers. Meu retorno na bolsa americana nos últimos 5 anos foi de 133%, enquanto o S&P 500 foi 83% — e, embora não pretendo dar conselhos de investimento, tenho muitas opiniões sobre estratégias das companhias da indústria.
Caso esses assuntos não sejam de seu interesse, convido a descadastrar-se. Não quero, definitivamente, ser mais um e-mail esquecido na sua caixa de entrada.
Se você me segue no Instagram, TikTok ou LinkedIn, não estranhe meu tom inflacionário por lá. Afinal, polêmica é o que atrai engajamento. Continuo otimista e acredito que dá para conviver de forma saudável com tecnologia, mas esse lado você encontrará só aqui nos textos, onde nuança é possível.
Obrigado por assinar.
-Jardel