Depois de muita introspecção nos últimos tempos sobre o que escrever aqui, decidi que virarei crítico.

Crítica de arte

Nunca gostei de visitar galeria de arte. Achava um lugar elitistas e intimidante. Como se precisasse ter estudado história da arte para desfrutar da visita.

Enquanto visitava São Francisco (EUA) numa viagem a trabalho, estava com tempo livre e decidi visitar o museu de arte moderna (SFMOMA).

Por um acaso, estavam oferecendo um tour guiado no mesmo horário e nunca tendo participado de um, pensei “ora, por que não?

A nossa guia deu vinte passos pelo saguão e parou ordenando os turistas a formarem um semi-circulo para ouvi-la. Se apresenta como crítica de arte em treinamento e faz alguns anúncios básicos sobre o museu, banheiros pra lá, saídas de emergências a esquerda, etc.

Então apontou para o átrio acima dela, onde tinham uns banners gigantes, aquela coisa de museu de arte moderna, sabe como é.

Mas os banners eram, na verdade, uma instalação de arte feita com cabelo humano. As palavras tecidas de maneira que pareçam transmitir uma mensagem importante, mas que não são legíveis em nenhum idioma. Uma obra monumental de Gu Wenda representando a diversidade linguística do mundo.

Essa foto tirei no terceiro andar. Juro que olhando do térreo é menos imponente. Gu Wenda no SFMOMA

Se ela não tivesse explicado, eu provavelmente nem teria notado.

O restante do passeio, ela explicou a motivação por trás de outras obras, a história de vida dos artistas, que técnica usaram e por quê.

Sempre achei que a função de crítico de arte (ou cinema ou comida) tinha o objetivo de ditar o que é bom ou ruim. Como se eu não conseguisse julgar sozinho.

Embora existam, sim, os árbitros do bom gosto (YouTube e Rotten Tomatoes tão aí para provar), descobri que a crítica competente reconhece o trabalho artístico sem reduzir esse trabalho a um produto determinístico do ambiente.

O crítico pode trazer seu amor pelo ofício ao novato: atuar como um guia turístico, um tradutor, um educador, um especialista.

Quero te inspirar a entender tecnologia da mesma forma que a visita guiada me inspirou a apreciar arte.

Crítico de tech

O escritor e desenvolvedor Sheon Han faz um argumento para a crítica de tecnologia em "O caso para a crítica de software":

”Críticos de software nos ajudariam a responder a perguntas que exigem respostas complexas: 'Por que isso é bom?' Ou, também, 'Por que isso é tão ruim?’”

Em "O que o crítico ama?", L. M. Sacasas contrasta críticos de tecnologia com aqueles de outras disciplinas:

Se pensarmos em todos os outros tipos de críticos, parece razoável supor que eles são movidos por um amor pelos objetos e práticas que criticam. O crítico de música ama música. O crítico de cinema ama cinema. O crítico de comida ama comida... Mas o crítico de tecnologia ama tecnologia? Alguns dos melhores críticos de tecnologia pareceram não amar a tecnologia de forma alguma.”

Pensar criticamente sobre tecnologia

Se você leu até aqui, já percebeu que quero racionalizar tudo. É assim que entendo o mundo.

Criei essa newsletter com a intenção de incentivar você a pensar criticamente sobre tecnologia. Permita-me explicar a experiência do usuário (UX), tecniquês e os contextos corporativos, culturais e políticos onde a tecnologia existe.

Eu amadureci da internet

Nasci no interior do interior do país. Meu pai, anda a cavalo e cria ovelhas por e minha mãe, tem sua própria horta e faz tudo ela mesma, de konbucha a geleia.

Se você nasceu na cidade grande, talvez essa imagem de vida simples e churrascos aos domingos seja sedutora.

Por mais que eles tentassem explicar a importância de pisar na terra descalço, eu sempre preferi videogame e internet.

Não sei exatamente porque, mas comecei a documentar o que me fascinava no mundo online no meu primeiro blog com 16 anos.

Posts populares ensinavam como baixar vídeos do YouTube, ver sua casa via imagens de satélite ou recuperar arquivos corrompidos no Microsoft Word. Juro que isso era relevante em 2006.

O blog não foi um sucesso do ponto de vista de visitantes, mas escrever 160 posts me dera um portfólio.

Mudei para São Paulo na quest de tentar ser adulto. Foi aqui que consegui meu primeiro emprego com tecnologia num diretório de softwares - chamado Superdownloads - onde pessoas baixavam antivírus e jogos em flash antes das apps stores popularizarem.

Depois parti para uma startup de e-commerce. Com 20 anos, era aquele jovem libertário que não achava faculdade importante e ninguém entendia o que fazia, mas trazia vendas através de mídias sociais então fui ganhando responsabilidade e budget.

Meu emprego pela próxima década foi no Facebook. Explicando para os gringos o que a América Latina precisava (como boleto bancário e o WhatsApp para negócios) e também auxiliando os times de vendas a posicionar os produtos de publicidade aqui. Quando fui afetado pelo layoff em 2022, a empresa contava com ~87 mil funcionários, sendo que metade foi contratado durante pandemia.

Vi a morte dos portais de conteúdo, a aceitação do e-commerce e ascensão das mídias sociais num período de 15 anos. Me sinto unicamente equipado para comentar a digitalização das nossas vidas.

O jornalismo tradicional passou de entusiasta para crítico ferrenho de tecnologia. Trump e Bolsonaro aconteceram. E nem precisamos ir muito além, quantas pessoas você conhece que são otimistas do nosso estilo de vida hiper conectada?

Conte-me que é crítico sem usar a palavra “crítico”

Um trend que amo no TikTok é tell me without telling me (ou conte-me sem me dizer).

Por exemplo, “Conte-me como o seu cérebro falha sem me dizer como o seu cérebro falha" e a resposta seria "Quando estou fritando ovo e cai um pedaço da casca na frigideira, mas jogo no lixo o ovo inteiro.

Embora aspiro criticar tecnologia, não planejo usar a palavra “crítica”, que carrega muitos pré-conceitos e fomenta guerras de cancelamento.

The World’s Most Popular Painter Sent His Followers After Me Because He Didn’t Like a Review of His Work. Here’s What I Learned | Artnet News
Ben Davis on the fallout from his critical review of Devon Rodriguez’s “Underground,” and what it says about “parasocial aesthetics.”

Fica entendido entre nós que textos que chamarei de reflexões na real são críticas, mas a crítica que expliquei acima, não a reclamação. Não apontarei dedos só

Escolha sua própria aventura

Além das reflexões, também me aventurarei a escrever sobre marketing e desenvolvimento de produtos e as recomendações de links continuam através do Jardicas, porém com menos frequência.

Alguns rascunhos quase prontos:

  • Entendendo modelo de negócio de streaming (marketing)
  • Humanas tem vantagem sobre exatas na era da IA (reflexões)
  • Qual o modelo de negócios de vídeos curtos? (marketing)
  • O que significa ser “autêntico” na internet? (reflexões)
  • Os links para formar opinião sobre 2024 (Jardicas)

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