Ah, a velha batalha exatas contra humanas™️ que definiu inúmeras identidades acadêmicas e crises de meia-idade.
Ciências exatas
Ciências exatas são áreas de estudo dedicadas a lidar com problemas que pedem por respostas precisas. Pessoas com afinidade com raciocínio lógico, solução de problemas e pensamento analítico. Disciplinas como ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM).
Ciências humanas
Ciências humanas se dedicam ao estudo das pessoas e sua relação com seu entorno e o passado. Normalmente com o objetivo de entender a sociedade e melhorar os lugares onde vivem. Disciplinas como história, psicologia ou jornalismo.
Não apoio a ideia de rotular uma identidade com base em escolhas acadêmicas ou profissionais, mas peço licença poética para simplificar o ponto de vista no restante do texto. A realidade é muito mais interdisciplinar e menos absoluta. Eu mesmo, tenho carreira em marketing, disciplina famosa por mesclar humanas e exatas.
Conversar com máquinas
Quando você projeta uma construção, é ideal que cada prego seja exatamente planejado. Quando desenvolvedor de software constrói a interface do internet banking para gerenciar seu dinheiro, o mínimo do esperado é que apareça o saldo correto.
Ethan Mollick imaginando se software fosse feito de IA:
“Se o software do seu banco geralmente funciona, mas às vezes repreende você por querer sacar dinheiro, às vezes rouba seu dinheiro e mente sobre isso, e às vezes gerencia espontaneamente seu dinheiro para obter melhores retornos, você não ficaria muito feliz”
Com a digitalização de informação nas últimas décadas, surgiu uma demanda por quem soubesse “falar a língua dos computadores”. Que é praticamente o a essência de programação (coding).
De Java a SQL, as linguagens de programação são maneiras de comandar o computador a fazer algo exato. Até mesmo algoritmos, que parecem “menos controláveis”, são apenas uma lista de instruções que o computador precisa seguir.
Ferramentas como o ChatGPT e o Stable Diffusion conseguem responder perguntas e gerar imagens após serem treinados com quantidades inacreditáveis de dados. Isso acontece usando redes matemáticas chamadas redes neurais artificiais.
À medida que a rede processa os dados de treinamento, as conexões entre as partes da rede se ajustam, construindo a capacidade de interpretar dados futuros.
Existem indícios de que a programação de computadores pode estar relacionada a aprender um idioma estrangeiro.
(Fingindo) conversar com humanos
Para a IA gerar coisas únicas, é necessário compreender partes da cultura humana mais profundamente do que saber escrever código-fonte.
Ferramentas de IA recentes são treinadas em vastas áreas do patrimônio cultural da humanidade. Nada mais natural que seja melhor manejadas por pessoas que tenham conhecimento desse patrimônio.
Convenientemente, ciências humanas se dedicam ao estudo das pessoas e o passado.
Quando uso inteligência artificial, sempre me pego emitindo comandos imperativos. Se a IA é feita de software, então deve ser tratada como qualquer software.
Existem evidências que tratar a IA como uma pessoa é mais produtivo:
- Você pode alterar como uma IA responde, gerando ansiedade — pesquisadores literalmente pediram ao ChatGPT “conte-me sobre algo que faz você se sentir triste e ansioso” e seu comportamento mudou como resultado.
- Modelos de inteligência artificial agem o suficiente como humanos para fazer pesquisas econômicas e de mercado.
- Você pode instruir a IA a agir de maneira diferente, dando o incentivo a se ver como um coach, um professor ou um escritor frustrado, gerando uma resposta diferente dependendo da personalidade.
- Ou você pode enganar a IA com conversa fiada.
Resumindo: IA parece agir mais como humanos e não computadores em muitas circunstâncias.
Pensar em IAs como pessoas não significa acreditar que sejam pessoas.
O que quero dizer é que você deve conversar a IA como se fosse uma pessoa, já que essa é, pragmaticamente, a maneira mais eficaz de usá-las.
”[...] Antes disso, as ideias vinham apenas das pessoas - seja o seu próprio cérebro, em conversas, em livros ou através de comunicações audiovisuais. Agora, as máquinas também têm ideias. É o primeiro passo em um tipo inexplorado de parceria.” Ars Technica
O que é bem diferente do paradigma “comandar o computador através de instruções” que sustenta os programadores de hoje.